sexta-feira, 20 de maio de 2011

Splice

Guardem bem essa imagem e esse nome, pra não assistirem esse filme nem por engano. Ruim de doer.

Sobre o roteiro: Um casal de cientistas geneticistas que resolve misturar uma já bizarra formade vida sintética e cheia de modificações no DNA, com DNA humano. Não vai dar pra falar do filme sem ser spoiler, mas nesse caso, não vale a pena preservar a surpresa. Como eu adverti anteriormente, não vejam o filme. Mas se teimarem em ver, pelo menos não vejam esse texto.
Pra começar, a cientista faz essa experiência quase que como uma brincadeira. E ao ser questionada sobre o problema ético que essa brincadeira causaria, responde com algo do tipo "não tem problema, qualquer coisa a gente descarta o projeto". Aqui já vai um fator tosco: Toda hora que aparece um problema ético para lidarem (a cada 3 minutos de filme), os cientistas tem que falar "mas isso não é certo... A ética profissional está sendo violada, e blá blá blá". Algo para evidenciar o que já é óbvio, pra deixar bem claro que eles simplesmente não se importam.
Mas tudo bem. Aí a coisa vai crescendo, e a cada cena é exposto pelo menos um motivo mais do que suficiente para cancelar a experiência e se livrar da criatura, mas os cientistas estão muito apegados com a superproblemátca cobaia. E se esquecem toda hora que ela é uma cobaia. Não dá... eles são cientistas respeitados (no cenário do filme), não chegaram em tal posição sem matar um monte de cobaias. O filme nos convence de que, simultaneamente, ambos passam de frios e racionais a emotivos passionais. Assumem riscos absurdos para manter os planos. Aliás, que planos?! Não tem plano nenhum! A criatura simplesmente vai crescendo (e muito rápido) e passa a ser criada quase como se fosse filha deles. E eles seguem arriscando tudo para continuar cuidando da criatura (que num certo momento até ganha um nome próprio - Dren, um desnecessário anagrama para Nerd) a troco de nada. De vez em quando bate uma crise de consciência em um dos dois, mas nada de desistir, senão a história perde o sentido.
A história vai seguindo e as coisas seguem piorando. Dren vai aprendendo a se comportar como um ser humano, se veste como tal, e tudo mais, e aí o filme passa a ter a pretensão de querer explorar teorias filosóficas e antropológicas e colocar todas essas teorias para por à prova. A cobaia vira adulta e começa a desenvolver características que supostamente são inatas do ser humano. Sente necessidade de conseguir um macho reprodutor, e como o único que conhece é o cientista interpretado pelo canastrão Adrien Brody, e então, "instintivamente", sente necessidade de eliminar a concorrente, a cientista Elsa (Sarah Polley). E ao tentar fazer isso, em retaliação, tem a ponta do rabo (capaz de projetar uma lâmina) amputada. O cientista discorda do método, eles brigam e ele fica só com Dren.
Aqui chegamos no anticlímax do filme, o momento máximo de como essa história pode ser patética: Dren seduz o cientista então eles transam. É isso mesmo, não tô de sacanagem. Aí eu rí alto quando isso aconteceu, porque é o cúmulo do quão patético isso pode ser. A história segue, mas já não faz mais sentido continuar com a saga dos problemas éticos e da tosqueira trash na qual o filme se aprofunda em tentar ser. Quem conseguiu se sentir interessado em ver o filme baseado no que leram aqui, boa sorte. Mas preparem-se para um final que faz tudo isso se tornar insignificante perto do desfecho da história. Isso sem nem falar na experiência paralela (que deveria ser a única) que dá errado de forma quase cômica com o banho de sangue que cai sobre a comunidade científica, e no fato de que eles conseguem fazer todas as proezas até aqui relatadas (com exceção desta última) em sigilo absoluto. E virtualmente sem objetivo que seja proporcional ao que fazem.

O que esse filme tem de especial? Efeitos especiais até razoáveis. Criaturas convincentes em termos de realismo.
Vou defender aqui uma teoria que tenho pra arte de forma geral, que vou explicar através de exemplos. Quando o compositor John Cage compôs 4:33 (pra quem não sabe, é uma música que consiste em 4 minutos e 33 segundos de silêncio), essa não foi a primeira obra dele. E quando Kazimir Malevich pintou "Quadro negro sobre fundo branco", também não foi sua primeira tela. Ambos já tinham uma reputação que os credenciava a tentar fazer algo inusitado. Quentin Tarantino e Robert Rodriguez já eram famosos quando fizeram Grindhouse, ou From Dusk Till Dawn. Então, fizeram algo trash, mas com a intenção de ser trash, como um tributo. Então, se o cara quer fazer algo bizarro que desafie o espectador, não o faça no início da carreira, ou antes de atingir um status de incontestável. Ou então, vai ter seu trabalho encarado como se fosse sério. E levar esse filme a sério, não rola.

Quando e com quem assistir esse filme? Vou falar de novo, o filme não vale nem o entretenimento, nem os sustos, nem... nada. Não merece existir. Mas se insistirem, é um filme de terror recheado de cenas violentas, perversões morais e até uma bizarra cena de sexo homem & monstra. Com isso em mente, verifique com quem dá pra assistir.

Ficha técnica:


Elenco: Adrien Brody - Clive Nicoli
Sarah Polley - Elsa Kast
Delphine Chanéac - Dren
Direção: Vincenzo Natali
Produção: Steve Hoban & Guillermo del Toro
Roteiro: Vincenzo Natali & Antoinette Terry Bryant
Trilha sonora: Cyrille Aufort
2009 - EUA - 104 minutos - Ficção científica / Terror

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